segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Antichrist (Lars Von Trier)





Aos 53 anos, o enfant terrible mais velho do cinema contemporâneo continua causando polêmica, repulsa e paixão em iguais medidas a cada novo trabalho acrescentado à sua carreira.
Von Trier criou o longa quando passava por uma depressão profunda e o filme realmente é o trabalho de alguém emocionalmente perturbado. Algumas pessoas livram suas neuras em sessões de análise. Outras, fazendo arte. Ainda bem que Von Trier pertence ao segundo caso.

Esse drama psicossexual conta apenas com dois personagens, Ele (Willen Dafoe, que já foi o próprio Jesus no filme de Scorsese, "A Última Tentação de Cristo") e Ela (Charlotte). Num belo prólogo, rodado em uma câmera ultralenta num preto-e-branco límpido, elesfazem sexo enquanto o filho pequeno passeia pela casa e mergulha para a morte ao cair de uma janela - não sem antes derrubar pequenas estátuas de três mendigos, chamados de Dor, Luto e Desespero.

Só um cineasta do porte de Von Trier (combinando doses de polêmica e genialidade) seria capaz de criar imagens tão belas quanto assustadoras como essas que abrem o filme. Mas isso é só o começo. Ao longo de mais de cem minutos, o longa será construído em cima de opostos, ele/ela, natureza/homem, escuridão/luz e, especialmente, imagens de uma beleza hipnótica contrastando com horrores de revirar o estômago.

 O casal embarca então para uma casa no meio de uma floresta, chamada Éden. É lá que Von Trier coloca todos os demônios para fora. Realidade, sonho e pesadelo se misturam de tal forma que, para muitos críticos, “Anticristo” é visto como um filme de terror – uma classificação que não dá conta de sua complexidade. 

Von Trier também coloca em questão a chamada psicoterapia cognitiva, uma alternativa menos profunda que a psicanálise, mas útil para resolver alguns tipos de problemas, medos e traumas. O terapeuta, no filme, convence sua mulher a abandonar os remédios que vinha tomando e a superar o luto elaborando uma lista com os seus maiores medos.  

Em suas obras mais importante, como "Ondas do Destino" (1996) e "Dançando no Escuro" (2000), Von Trier nos mostra que a bondade pode ser punida. Os personagens intrinsecamente bons pagam por sua generosidade. Em "Dogville" (2002) e, mais tarde, na sua sequência, "Manderlay" (2005), o diretor muda esse discurso. Os bons podem se tornar perigosos quando seus atos não são reconhecidos. Aqui, há uma subversão de tudo isso: o mal também é passível de punição.

A Natureza é uma força devastadora, assim como uma mãe que sofre com a morte de seu filho. Como diz a ária "Lascia ch'io pianga", da ópera "Rigoletto", de Haendel, na abertura e encerramento do filme, a personagem feminina pede "deixe-me chorar pelo meu destino cruel (...), que a dor possa romper os laços da minha angústia". É a personagem se punindo com um sofrimento ainda maior do que aquele que ela não consegue superar. Ninguém deve subestimar uma mãe em luto - nem um cineasta depressivo.

É, como o próprio diretor tem defendido, “um filme sem regras”, sem uma lógica facilmente explicável. Não expressa necessariamente a opinião do diretor sobre alguns dos assuntos que aborda, mas sim a sua inquietação artística e a vontade de levar o espectador a um lugar que ele não conhece.

Veja o trailer do filme aqui.

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